Retratos
Tenho medo
de olhar
a cilada muda
dos retratos.
O tempo parado
enche tudo
de estátuas.
Não há ventos,
nem vida.
Só o instante
plástico e inconjugável,
encarcerado
na folha de papel...
Tempo
Quatro olhos
miram-se
no espelho
do meu quarto.
Aquele vidro
não guarda
o que passou.
Há mais em mim,
além deste rosto
sazonado
que me anuncia
aonde eu vou.
O passado
é que esculpiu
não só este perfil
mas este ser
exclusivo.
Passado
A árvore
é recidiva
da vida.
Seu esplendor
indizível
de tanta verde
surpresa;
sua seiva calada
que guarda
uma senha secreta;
a frescura do
milagre que sua
sombra
resume...
Estava tudo previsto
na semente,
ponto minúsculo
e improvável!
Presente
A árvore,
mesmo devagar,
faz certo esforço
vital:
rompe
o sono da semente;
vence
a força da terra;
estende
o vigor do seu tronco;
espalha
a beleza das folhas;
opera
a prospecção das raízes.
Além da semente,
é a ação
que empreende
para fazer-se
o que é.
Futuro
O presente
é o código
do corpo,
um intervalo
de mistérios...
E o amor
é um triz
do futuro
em gesto,
pensado
duplamente
e inaugurado
na beira
do abismo
do sentido.