domingo, março 25, 2012

Retratos

Tenho medo
de olhar
a cilada muda
dos retratos.

O tempo parado
enche tudo
de estátuas.

Não há ventos,
nem vida.

Só o instante
plástico e inconjugável,
encarcerado
na folha de papel...


Tempo

Quatro olhos
miram-se
no espelho
do meu quarto.

Aquele vidro
não guarda
o que passou.

Há mais em mim,
além deste rosto
sazonado
que me anuncia
aonde eu vou.

O passado
é que esculpiu
não só este perfil
mas este ser
exclusivo.


Passado

A árvore
é recidiva
da vida.

Seu esplendor
indizível
de tanta verde
surpresa;
sua seiva calada
que guarda
uma senha secreta;
a frescura do
milagre que sua
sombra
resume...

Estava tudo previsto
na semente,
ponto minúsculo
e improvável!


Presente

A árvore,
mesmo devagar,
faz certo esforço
vital:
rompe
o sono da semente;
vence
a força da terra;
estende
o vigor do seu tronco;
espalha
a beleza das folhas;
opera
a prospecção das raízes.

Além da semente,
é a ação
que empreende
para fazer-se
o que é.


Futuro

O presente
é o código
do corpo,
um intervalo
de mistérios...

E o amor
é um triz
do futuro
em gesto,
pensado
duplamente
e inaugurado
na beira
do abismo
do sentido.