sábado, julho 25, 2009

A castelã

O castelo
em que habita,

estrelado de palavras

e sentimentos,

é cárcere

que a liberta.

Pois a castelã,
furtada do temporal,
persevera,
jamais profanando
sua crença;
jamais concedendo
sua privança.

Ao largo do castelo,
século após século,
desfilam passageiros,
validos de príncipes,
cobertos de moedas,
constelados de aparências.

Príncipes que passarão,
valores que fugirão,
eternas pérolas
que a ninguém
pertencem...

(Pobre daquele
que se engana,
pensando possuir
uma pérola –
impossuível:
uma vida inteira
que não basta
para ter o eterno).

Não basta ter
(que esse verbo
é enganoso);
mas ser
que esse
não faz vassalos.

A castelã
e seu castelo
são conteúdo e
continente
que se confundem,
sendo eternos.

E ser eterno
é fácil:
apenas não conceder.

Pois só concede
aquele
que nada tem a perder;
ou aquele que pensa
que não há gozo
no transcendente.

E a castelã
tem a perder
a plena alegria de ser pouco,
mas ser,
e essa prenda
é imperdível:
(nada de moedas...
a valia de ser
é que esse verbo
nos faz pérolas –
cativas,
solitárias,
mas impossuíveis).

A castelã
priva-se
do instante
pois já sentiu
os apelos
da plenitude.
Seu gozo é sempre.

Pobre daquele
que prefere
privar com
o minuto.

Para a castelã
não há príncipe
que valha
despojar-se
de si mesma.

Não há moeda
que já não possua;
não há aparência,
pois sua máscara
é sua face aberta.

Seu tempo é nunca,
sua vida é jamais.
Pobre daquele
cuja serventia
é caprichar
em permitir
e avassalar-se
perdendo
de ser pérola,
neste instante.