A torre e o espelho
Uma guerra findou.
Mas outras nascerão
de nossos defeitos.
Serão mais brutais:
ceifarão crianças
ferirão os bons
pouparão os maus...
O medo
varrerá as cidades
interromperá os campos...
Mesmo os mares
carregarão
submarinos
perigosos como vulcões.
Dentro de nós
muita coisa morrerá,
principalmente
quando tudo
rebrotar
cheio de pânico
e desamor...
Olharemos o relógio,
esperaremos,
feridos,
um tempo
sem salmoura.
O que nos vem
são pessoas
de mãos trêmulas,
as roupas molhadas
de lágrimas
e sangue.
Porque faltam explicações.
Alguns de nós
serão felizes;
inventarão
máquinas de matar;
esvaziarão
tudo de sentido:
os vagalumes virarão
relâmpagos mortais;
as lagartas serão
interrompidas...
Alguns de nós
ficarão loucos
e fugirão
do mundo
sem de todo partir.
Alguns de nós
falarão
pelos que
ficaram mudos...
sua voz
sairá dos túmulos:
recontaremos os mortos
reergueremos os prédios
reapontaremos as auroras
recomeçaremos as crianças...
Uma delas
achará
o espelho
enterrado.
E outra
guerra absurda
nascerá na sua mão.