quarta-feira, agosto 16, 2006

Graciliano Ramos

O Movimento Regionalista Nordestino está localizado temporalmente no segundo tempo modernista (1930 – 1945) e caracteriza-se não só pela crítica contundente à estrutura política da região, mas também pela denúncia do determinismo ambiental e climático que completa suas dificuldades.
Sua porta de entrada é a Revolução de 30, que fraturou a economia rural e agrária e toda a sua lógica e transferiu o poder para o universo urbano e mercantil. Em cada estado do Nordeste, um escritor tomou a si a narração do estertor e seus corolários (o coronel, o voto de cabresto, o patriarcalismo, o morador...) e da ascensão de um arcabouço social e econômico novo que substituiria traumaticamente o anterior.
O Nordeste aparece como cenário dessas reflexões, da profundidade das raízes dessas estruturas arcaicas na região as quais potencializam formatações coloniais baseadas no latifúndio e na escravidão.
Graciliano Ramos é a cara de tudo isso: seus três principais romances retratam a tragédia rural sendo substituída pela urbana, num quadro de derrocada do homem em todas as suas dimensões.
“Vidas Secas”, numa narração partida em quadros independentes entre si, retrata o deslocamento de uma família miserável fugindo da seca para abrigar-se numa fazenda abandonada que, na verdade, mostra-se depois como lugar nenhum. Fabiano e Sinhá Vitória, os adultos, não sabem para onde ir, são incapazes de sonhar e de sair da situação em que se encontram. Andam em círculos numa planície avara e sem remédio.
Animalizados pela brutalidade do meio e da estrutura social, não pensam, não entendem, não agem, sendo fantoches sem livre arbítrio. Seus filhos sem nome repetem e parecem eternizar a falta de perspectivas. Por uma triste ironia, o mais humanizado dos personagens é a cachorra Baleia, o único do grupo que se comunica, que se move dentro da lógica de amor e do sonho – o homem desumanizado ao lado de um bicho humanizado... O narrador em terceira pessoa acompanha-os com uma compaixão indisfarçável.
Não é o que acontece com os personagens centrais dos outros dois romances – Paulo Honório e Luís da Silva, que, em primeira pessoa, relatam suas trajetórias sem sentido, mas agora de uma forma diferente: não é que eles estejam perdidos por não saberem como Fabiano; eles sabem aonde vão, porém seguem um caminho errado – não se associam, não se solidarizam; seu materialismo cego os arrasta a um relativismo moral e a um egoísmo desprezíveis; carregam um tamanho poder de negação que parecem possuir um desejo secreto de autodestruição que não se completa e de destruição do outro que tragicamente se realiza.
“Angústia” é o menos social e mais introspectivo de seus textos. O narrador Luís da Silva é um homem falhado em tumulto e desordem de pensamentos. Seus sentimentos, lembranças e projetos perdem-se em delírios e labirintos e o vazio de sua vida parece justificar ou o crime ou a loucura que o vencem.
“São Bernardo” traz no título o nome de uma fazenda, mas o fundamental no livro não é a terra; é Paulo Honório, que se projeta nela, e seus motivos psicológicos. O egoísmo é o traço mais característico desse personagem, a incapacidade mesma para se colocar no lugar do outro. Aí está o aspecto central da obra: o atrito irremediável entre os personagens, a falta de diálogo, a desigualdade, as sombras, as opressões, os castigos e a dor decorrente desse conjunto absurdo de impotências para a humanização das relações sociais. A brutalidade, a grosseria, a injustiça vencem de uma forma tão inegável na fazenda São Bernardo que matam Madalena, a esposa do narrador. A narração de Paulo Honório, no entanto, mesmo sem querer, ressuscita a humanidade tímida e delicada de Madalena que, ao fim, é o grande triunfo do texto?

terça-feira, agosto 15, 2006

O Pré-modernismo - parte I

“Eu sou o Império no fim da decadência.” (Verlaine)

O fim do século XIX foi marcado por uma incrível pluralidade de tendências filosóficas, científicas, sociais e literárias. Em 1857, foram publicados dois livros que ratificam essa afirmação: o primeiro foi “Madame Bovary”, de Gustave Flaubert; o segundo, “As Flores do Mal”, de Charles Baudelaire.
O “Madame Bovary” afirmava a decadência da crença no sonho; sua personagem decai na medida em que não consegue conviver com a realidade que a circunda. Por outro lado, “As Flores do Mal” anuncia a derrocada do tecnicismo e do cientificismo e o apogeu de uma revanche da subjetividade que havia sido desmistificada durante o Realismo.
Em 1866, o “Parnasse Contemporain” gerou tanto o Parnasianismo como o Simbolismo, útero único para tão opostas tendências literárias.
Os anos próximos ao de 1880 refletiram, na França, uma inquietação sem igual na literatura. Os artistas franceses pensavam viver uma época decadente. Reflexos desse pensamento estão presentes no espírito fútil da “Belle Époque” – em nada há valor, portanto, nada há a perder: viver o momento como se fora ele o que restasse de valoroso.
A Primeira Grande Guerra destruiu cada sonho da redenção do mundo através da técnica e do cientificismo: sua realidade, nua e violenta, acabou de vez com a fé que o Realismo tinha posto no avanço da técnica.
Derrotado, assim, o Realismo.
Por outro lado, o sonho de um novo mundo que o Comunismo anunciava também se mostrou impraticável. Que verdade queiram impor aqueles que praticaram um verdadeiro genocídio de camponeses?
Derrotado, assim, o Simbolismo.
Sem técnica e sem sonho, os artistas começaram a buscar novas formas de expressão. Antes, orgulhosos de suas certezas ou, mais tarde, orgulhosos de viverem num abismo, agora buscavam a palavra que diria um mundo novo – já que o antigo, respaldado no certo ou no irreal, havia sido desbaratado cruelmente.

O Pré-modernismo - parte II

“O que parece certo, porém, é serem eles dominados por uma indecisão instintiva. Balançam-se entre o mar e a areia. Surge ao mesmo tempo crepúsculo e madrugada.” (Rodrigo Otávio Filho)

A luta entre as forças negativas do passado e as tendências ordenadoras do futuro deu margem a uma pluralidade de investigações. O intelecto tornou-se um laboratório de concepções avançadas. A arte e a literatura transformaram-se em pesquisa.
Duas correntes – uma destruidora, outra de crença em uma nova ordem superior – são o resumo de todas as buscas a que se submeteu a arte.
O Futurismo (1909) e o Dadaísmo (1916) primavam por destruir o passado, enquanto nada criavam, além de manifestos cínicos e brincalhões. Por outro lado, o “esprit nouveau”, anunciado por Appollinaire, ao lado do Expressionismo (1910), e o Cubismo (1913) são a apoteose do lado mágico e da fé na composição através dos símbolos. O Surrealismo (1924) ficou dividido entre as duas correntes, como a patentear o espírito de indecisão compulsiva que reinava, dominando as mentes.
Schopenhauer, Nietzsche, Hegel, o romance russo (com sua insanidade e fortaleza), Bergson, Proust, Kafka, James Joyce, Joseph Conrad, Henry James, Eugene O’Neill, T. S. Eliot, Virginia Woolf... Um período de encruzilhadas e malabarismos... O vulcão preparava-se para explodir, ninguém sabe para quê.
A ruptura anunciada por Allan Poe, Whitman, Baudelaire, Lautréamont, Rimbaud e Mallarmé borbulhava, no esconso, ratificada pelo “stream of consciousness”, pelo pontilhismo ou pelas pinceladas quebradiças de Van Gogh: um novo modo de ver a expressão.
Havia, por outro lado, novos mundos onde estar perdido. Eram o inconsciente de Freud e a intuição de Bergson. Mergulhados no desconhecido, os artistas intuíam a insânia de mundos em que não cabiam e que não conseguiam expressar. Assim, a expressão ou a linguagem tornaram-se nova obsessão – mais uma que veio somar-se às infinitas já angustiantes e intransponíveis.
O Pré-modernismo, assim, é mais um período de indecisão, preparação e tentativa que jamais se fez, pois a frustração é a marca indelével que o caracterizou. Não foi a palavra “velocidade” ou o barulho das engrenagens fabris que falou a pretendida modernidade. Esta nada mais era que uma ardente procura e uma longínqua pretensão. Os heróis da derrubada do mundo antigo nada fizeram além de mostrar que as fórmulas estavam desgastadas e corroídas: trabalho importante somente quanto à abertura mental a que se procedeu depois deles.

O Pré-modernismo - parte III

“Tupy or not tupy – that is the question.” (Oswald de Andrade)

Não é por acaso que Shakespeare nos mostra seu remoto rosto na “moderna” frase de Oswald de Andrade: a modernidade parece oscilar, antes de qualquer outra coisa.
No Brasil, o Pré-modernismo foi uma inquietação que borbulhava no silêncio, no dizer de Tristão de Ataíde. Já em 1916, Alberto de Oliveira, parnasiano por excelência, registra, na Academia, a necessidade de renovação. Antes, em 1909, Lima Barreto publica “Recordações de Isaías Caminha” e anuncia novos arquétipos estéticos. Euclides da Cunha fizera-nos já mergulhar na realidade brasileira através de seu grandioso “Os Sertões” e não foi sua árdua e difícil pena que nos furtou do susto da consciência de nossa indigência e de nossa pobreza insolúvel e predestinada. Raul Pompéia, na mesma esteira, já houvera dado, no seu “Ateneu”, uma visão meio impressionista da realidade.
Os espíritos inquietavam-se, sobremaneira, a buscar novas maneiras de dizer o que se via mudar.
A Semana de Arte Moderna, em 1922, foi uma anunciação ao público de que havia uma mudança ocorrendo e ela coroou o Pré-modernismo, numa atmosfera iconoclasta, porém fértil.
A partir dela e através dos caminhos abertos pelo Pré-modernismo, seguimos até hoje.

sábado, agosto 12, 2006

Retratos da vida, de Claude Lelouch

Revi recentemente o “Retratos da vida”, de Claude Lelouch, e tomei três sustos.
O primeiro foi me lembrar como o filme é tocante, como costumam ser as histórias interrompidas pela guerra que a Europa não cansa de contar e que acordam na gente aqueles imperativos de suplantação escondidos no mais recôndito de nós mesmos e que acessamos quando tudo parece perdido.
Na verdade, usando Drummond, uma guerra é daquelas “exigências brutas” da vida depois das quais nunca mais somos os mesmos. E esse filme vai contando aos poucos as escolhas de várias personagens diante da situação extrema de uma guerra que envolveu o mundo todo e que despedaçou para sempre as certezas do século XIX.
É que o século XIX construiu uma espécie de esperança na matéria, na ciência e na tecnologia. E essa certeza ruiu com a chegada dessa guerra, que nos mostrou que a ciência e a técnica são uma faca cuja lâmina pode também ferir.
O século XX sabe dessa faca fria que ceifou tantas vidas e tantos sonhos e é por isso que quem sofreu essa guerra em carne viva ainda precisa muito falar sobre suas seqüelas.
O “Retratos da vida” pega esse tema duro que destruiu não só os parâmetros do século XIX, mas também o que podia restar de pureza e complacência nas relações humanas e o desenvolve de maneira lúcida e embebida de poesia.
Ao fundo, ouve-se o “Bolero de Ravel”, que dá uma sensação bipartida entre abismo e salvação, já que ele parece sempre recomeçar, verbo inescapável quando uma guerra finda. Recomeçar de outra forma, para ser mais clara, pois a guerra muda tudo. Visto a roupa de quem sobrevive e sinto remorso por estar viva, ou responsabilidade por ter em minhas mãos “o legado de nossa miséria” ou da nossa fortuna para transmitir.
O “Bolero de Ravel” também nos ajuda a ver como todas as histórias são iguais... e diferentes, nos tons, nos volumes... Algumas vidas são mais leves; outros de nós temos vidas densas e pesadas... O tempo é uma mola espiralada de voltas semelhantes ou diversas?
Os mesmos atores fazem o papel de avô, pai e filho, às vezes, recontando essas nossas histórias entrelaçadas ou dizendo de outra forma como somos o desejo de nossos ancestrais e não somos, ao mesmo tempo, porque também somos o que queremos ser. Cada um de nós tem uma história única que, atrelada à de outras pessoas, exige ser narrada.
O segundo susto é de inveja do cinema, que é capaz de mostrar num segundo uma página inteira de exaustiva elaboração lingüística. O “Retratos da vida” é único naquilo que o cinema tem dele mesmo – imagem pura, às vezes sem palavras, que traduz tudo. O DNA do século XX é a imagem, e revejo perdida a palavra como tradutora desse tempo. Minha vingança é este papel e este lápis baratos com que escrevo este texto.
O terceiro susto foi o pior: onde ficou perdida, entre a década de oitenta e hoje, a esperança na arte como ponto de encontro e porta de saída? Como ousamos esquecer que nossa humanidade, que dispõe do que nos humaniza, nos move uns para os outros e uns pelos outros, como os círculos concêntricos do “Bolero de Ravel”? Como fomos aos poucos nos perdendo uns dos outros e da idéia de que há um “algo” que planeja nossos encontros? Que maldita ampulheta prendeu e sufocou em sua areia a idéia da arte como caminho que nos faz saber ser, fazer o que somos – abrigos uns dos outros?

quinta-feira, agosto 10, 2006

Carta a tia Beta

Tia Beta:
Esta carta é, antes de tudo, para agradecer. Secundariamente, é uma conversa com você, longa, pela qual já cansei de esperar e que enchi de planejar e – coisas da vida – vai se adiando a meu contragosto.
Nem sei se, pessoalmente, ficaria tudo organizado, pois precisaria falar e ouvir tanto que – aposto – ficaria tudo pela metade, embebidas que estaríamos uma da outra, e nos perderíamos do fio da lógica que, realmente, não é meu forte.
Aí resolvi escrever para organizar melhor: coisas antigas e boas que você me deu, sem nem saber. É que penso todo dia nas mulheres que, direta ou indiretamente, construíram a trança de gente que, aos quarenta, descubro que sou.
Minhas avós, minha mãe, minhas tias – cada uma de vocês reside em mim de uma forma e me ajudam, às vezes; outras, me desajudam... Mas reconheço-as todas, habitantes de mim, e começo, agora, a saber o que cada uma me deu.
A minha avó Olímpia me ensinou pelo avesso: navio desancorado e sem porto, essa avó me fez uma árvore. No dia em que comprei minha casa, ninguém sabe o que senti – mistura de alívio e inteireza.
Na minha sala, repousa seu relógio mudo que herdei. Dizem que a cada quarto de hora e a cada meia hora ele tocava e batia, satisfeito, até que vovó, um dia, irritada, quebrou a sua voz. Não faz mal. O tic-tac mostra, ainda, a hora exata.
Esse relógio marcou tanta hora extremada na vida de minha avó... Só não marcou o tempo de felicidade que ela não soube construir.
Só depois de muito tempo descobri por que caminhava sem rumo entre paredes vazias durante as mudanças, abraçada à caixa da louça inglesa de minha avó, que eu temia se quebrasse: é como se, sem saber, eu conhecesse, em mim, naquele momento, o desnorteamento da avó. A louça jaz, quieta, agora, no petisqueiro de D. Alice, mãe de minha sogra, que me deu o móvel, na certeza de que eu cuidaria bem dele.
Vovó Limpa era a cara de suas colchas de retalho: tecido partido cuja inteireza ela tentava recompor, sem conseguir.
A outra avó era capaz de fazer uma colcha inteira com um fio – disciplinada e metodicamente. Horas a fio...
Duas irmãs, tão próximas e tão diferentes! Uma: maremoto; outra: calmaria. Minha mãe não conseguiu tarar essa balança de dois pratos.
Longe de uma, vizinha da outra, fui, com elas, de início me fazendo...
Com minha mãe, aprendi tão bem o silêncio que foi trabalho desaprender e, agora, aos poucos, sinto que sou eu mesma, construída no fio das palavras que sou capaz de externar.
Foi difícil, mas foi possível, isso que vale!
Minha mãe...
Foi minha avó Rita que me ajudou a não ir de todo no caminho de minha mãe, quando disse: “Fadoca era tão boa que não prestava”. Tirando os noves fora das duas, aprendi que ninguém pode amar contra si mesmo.
E lá vem de longe uma frase sua: “Sou mansa, mas sei o que quero”, e nisso um fio a mais...
Tia Gena também foi tábua que me salvou. Com a maior naturalidade do mundo, fazia que cuspia o chocolate que lhe cabia e não o repartia com ninguém. Era dela e pronto! Várias vezes pude contar com ela, minha bastante mãe procuradora, depois que minha própria mãe se foi. Não é todo mundo que pode ter duas mães tão diferentes e tão ricas. Com uma aprendi a suportar; com a outra, a buscar caminhos quando não agüentava mais. Com uma aprendi a calar; com a outra, orientada, estou aprendendo a falar... E la nave va...
E tudo o que sofri tão forte durante certo tempo parece tão leve agora... Até meu pai, meu tornado intermitente, repousa manso e compreendido dentro de mim...
Minhas tias paternas são tesouros outros que tive o privilégio de herdar. Tia Midô me ensinou a falar do outro sem julgá-lo; tia Mana, a me permitir a ira contra os vendilhões; tia Mema, a ver que, dentro do meu destino, havia escolhas que eu tinha feito e que era preciso dar conta das conseqüências que vieram atreladas; e você, de longe, não só me ajuda a manter a calma e o querer, harmonizados, mas também a dar um chá de bússola à minha família, como posso, devagar.
Lá vem a voz da minha avó Rita:
– Cada um deve saber o que pode e o que não pode.
E aprendo, calmamente, o poder e aprendo devagar a dizer o que não posso, até porque não quero, graças a vocês todas e a um jeito atrelado de ser, pérola de que posso dispor, por ter nascido nessa família.
Assim, renasço todo dia, todas vocês me ensinando a reconstruir o que, em certo momento, metade do meu sangue via perdido.
E descubro, aliviada, através de você e de tia Gena, que ser mãe é um pacote, mas de viagem; que o erro não é uma pedra, mas massa para modelar; que acertar não é concessão, mas harmonia comigo mesma.
Escrevo, como já disse, para agradecer por tudo. Por esse sangue que corre nas minhas veias e que agora sei, e por essas camadas de gente as quais formaram o solo fértil que sou.
Flávia.

quinta-feira, agosto 03, 2006

Curriculum mortis – para Lília Monteiro

O difícil silêncio
que guardei
me perdeu.

A tarde palavra
que falei
não valeu.

A preciosa lembrança
que conservei
não serviu.

A longe memória
que esqueci
me faltou.

O ensinado passado
que ouvi
me prendeu.

O fluido presente
que vivi
não entendi.

O planejado futuro
que pensei
não chegou.

O amassado papel
que exerci
não prestou.

O preciso trabalho
que fiz
não bastou.

O desastrado gesto
que plantei
não pegou.

O irado discurso
que apontei
não transformou.

A logo solução
que adiei
me partiu.

O raro amor
que acertei
não adiantou.

O custoso tempo
que passou
não resolveu.

A muita lágrima
que chorei
me exauriu.

A pesada vida
que recebi
me quedou.

A precoce morte
que escolhi
não pude.